Fico pensando em como o final de semana não foi lá grandes coisas enquanto ouço uma música dos Proclaimers e folheio o livro Kerouac Para Principiantes, que apesar do nome estranho é um livro extremamente foda. O livro tem esse nome porque faz parte de uma coleção argentina dedicada a diversos autores. A ideia é muito bacana. Pequenas biografias de grandes personalidades e assuntos acompanhas de ilustrações. Essa do Kerouac foi escrita por Jorge Repiso e ilustrada pelo Miguel Rep, ambos argentinos. Eu comprei essa biografia e mais uma do Bukowski da mesma série (também ilustrada pelo Miguel Rep) quando andava pela agradável Peatonal Sarandi, em Montevideo no Uruguai, e tinha só mais uns dois dias de uma viagem que já durava quase dois meses pela Argentina e pelo Uruguai quando eu fiz a tolice de deixar só dois dias pra curtir Montevideo porque eu não sabia que ia ser uma cidade tão fantástica quanto acabou se revelando.
Então eu tava andando por lá e curtindo meus últimos dias antes de voltar pro Brasil quando eu vi essa livraria e resolvi entrar. Eu faço isso com praticamente todas as livrarias que eu vejo, desde que eu tenha quinze ou vinte minutos disponíveis e esteja passando por uma livraria ou sebo é praticamente certo que eu vou entrar lá pra tentar achar algum livro ou disco raro por um preço bacana, e dessa vez não foi diferente. Eu tava andando por lá complemente sozinho e curtindo o Uruguai, realmente me deleitando com as ruas e as construções de Montevideo e pensando em quão maravilhoso seria encontrar uma boa garota uruguaia, me casar e ir morar com ela em um daqueles prédios velhos e charmosos que tem por lá, curtindo a cidade como uma capital com ar de interior que ela tem (e que é descrita assim em praticamente todo guia de viagem sobre a cidade, mas não é mentira) enquanto escrevesse meus poemas em espanhol num estilo Mário Benedetti ou uma versão em língua espanhola e versada do John Fante e minha garota trouxesse bons vinhos e preparasse chivitos para nós comermos assistindo qualquer bobagem na televisão. É claro que tudo aquilo era só mais um dos meus delírios malucos, mas eu gostava de pensar naquilo. Aí eu entrei naquela livraria, e era um lugar bem grande e espaçoso, com várias estantes gigantes, e o mais legal era que a livraria era calma e só mais uma ou duas pessoas estavam por ali naquela hora. Diferente das livrarias de shopping que se sustentam vendendo basicamente livros de auto-ajuda e best-sellers, essa era exatamente o que eu imaginava como sendo uma livraria uruguaia. Era mais ou menos como se a livraria contivesse ali dentro todo o espírito de Montevideo que me encantou durante aqueles dois dias em que eu passei andando sozinho pela cidade, coletando vinis raros numa banca de rua, comprando cds do T. Rex e quadros dos Beatles e de Elvis Presley em lojinhas esquecidas de galerias vazias e bebendo cerveja uruguaia em botecos enquanto eu via uma espécie de carnaval ou desfile da cidade passar. E foi basicamente assim que eu achei essa fantástica biografiazinha do Kerouac e fiz isso parecer tão romântico para mim como se fosse uma das mais legais que já aconteceram, ao invés dizer que eu apenas andei por uma cidade desconhecida, entrei numa livraria e peguei os livros que me interessevam, porque pode parecer uma tolice, mas algumas coisas pra mim realmente são tão românticas como nos melhores filmes ou livros, e essa era verdadeiramente uma delas.
E talvez seja por isso que eu fico aqui pensando no meu final de semana um tanto quanto frustrante onde eu fiquei muito bêbado na sexta e me senti muito deprimido, pensando em coisas ruins, ou no sábado onde eu quase não bebi por ter tomado a tal vacina da gripe H1N1 e ter tido uma reação de fadiga e moleza muito ruins, e até mesmo na madrugada de um domingo em que eu não saí de casa pra nada além de ir almoçar com o meu velho num restaurante qualquer, e pensando por um lado isso até que é bom, porque no único dia da semana onde eu não trabalhei eu consegui ver o fabuloso filme Jules Et Jim do Truffaut, folhear essa biografia ilustrada do Kerouac e fumar cigarros na sacada do apartamento enquanto pensava nas cores do sinal de trânsito que fica na rua em frente e no que eu poderia fazer a respeito da minha vida num futuro próximo. E isso não é nada muito diferente além do que eu fiz minha vida inteira. E mesmo se as noites forem quietas e os finais de semana não forem lá grande coisa e você tiver que trabalhar na segunda-feira talvez ainda haja espaço pra simplesmente ficar tranquilo num domingo à noite, ouvindo um disco e pensando sobre qualquer coisa que te deixe um pouco mais esperançoso pra encarar toda essa coisa que serão os próximos cinco ou seis dias da semana de trabalho até o próximo final de semana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário