Pra ser bem sincero, eu não estou escrevendo muito, mas ao mesmo tempo estou escrevendo muito. Essa dualidade se deve ao fato de que talvez eu não estou mais escrevendo para as outras pessoas, estou escrevendo para mim, e isso é realmente ótimo. Agora com meu próprio computador eu tenho meu próprio diário. Estou atualizando ele a cada dois ou três dias e não mantenho nenhuma relação obrigatória com ele. Estou muito feliz com esse meu diário. Ainda não parei para ler as coisas que escrevi até agora. Talvez esse seja um bom momento para fazer isso, mas prefiro não estragar essa sensação prazerosa ao re-ler os textos e achá-los horríveis como acontece freqüentemente com as coisas que eu escrevo e releio. E pra ser sincero eu quase nunca consigo reescrevê-los novamente. Desconfio de alguns motivos para isso. O maior deles talvez seja o fato de que eu tenho medo de apagar as impressões reais e vivas que deixei ali. Por isso por pior que o texto seja me falta coragem para modificá-lo.
Ás vezes tenho uma impressão (pra ser mais sincero um sonho) de que um dia alguém (não só alguém, muitas pessoas no meu sonho) vai ler essas coisas e se identificar e realmente gostar, e quem sabe até mesmo sentir a mesma coisa que eu sinto em relação ao Fante, ao Salinger, ao Buk, ao Burroughs e a outros assim. Muito provavelmente essa seja talvez só mais uma das minhas viagens fantasiosas sobre a minha vida e meu futuro, mas em partes eu gosto de pensar assim. O único problema é que quando caio em si tenho um terrível sentimento de impotência e de inferioridade. Será que todos os escritores também passam ou já passaram por isso? É engraçado eu me colocar como um escritor. Geralmente eu nunca faria isso, e acho que só estou fazendo agora porque essa é uma divagação de mim comigo mesmo. Um tanto egocêntrica creio eu, mas não posso negar que me faz bem.
Pra ser bem sincero estou gostando um bocado desse texto. Um bocado não, talvez só um pouco, mas acho que provavelmente eu deva mostrá-lo para alguns poucos amigos e ver a opinião deles. Esse é outro problema bom e ruim. Preciso da opinião dos outros sobre os meus textos para me afirmar. Mesmo quando leio minhas próprias coisas e raramente acho alguma coisa fantástico ao ponto de duvidar por alguns instantes que eu tenha escrito aquilo por mim mesmo eu ainda me importo com o fato de se as outras pessoas vão achar tão bom quanto eu achei. Geralmente elas não acham. Não dizem isso com estas palavras, mas o fato de se omitirem é claro para mim de que o texto não passou de mais umas linhas lidas pra elas e de mais alguns minutos perdidos em suas vidas. As poucas coisas que escrevi que tiveram algumas críticas positivas foram relatos depressivos e textos de sentimentalismo barato. É outra coisa que já tentei me curar, mas depois de um tempo percebi que é impossível parar de sentir. Depois de perceber isso comecei a tentar direcionar meus sentimentos para outras coisas. Não digo outras fontes de expressão, porque escrever é talvez a única coisa que eu gosto de fazer. Se talvez eu tocasse violão provavelmente faria algumas baladas sentimentais do estilo Ryan Adams. Pra falar a verdade eu até arrisco escrever algumas músicas, e então me junto com meu amigo Hermano e fazendo sons com a boca e usando outras músicas relativamente parecidas como comparativo peço para ele ir fazendo a melodia assim e assado até chegarmos num consenso do melhor para a música. Funcionou algumas vezes. Fizemos uma meia dúzia de músicas assim, umas duas ou três realmente boas eu acho.
Também queria entender o fato de eu me apaixonar e desapaixonar tão fácil das garotas em geral. Tem dias em que penso em determinada garota com grande freqüência e intensidade mas dois ou três dias depois é como se um encanto houvesse passado e ela fosse como todas as outras. Já me peguei ficando apaixonado por garotas que vejo na rua e que nunca mais verei novamente, ou até mesmo por garotas que vejo com freqüência e nunca tinha pensado algo a mais até aquele momento. E depois passa. E outras vêm. E tudo continua a mesma coisa, na grande maioria das vezes (acredite, a grande maioria mesmo) eu nem ficando com elas e nem falando sobre o que sinto ou deixando transparecer. É como se guardasse aquilo para mim, com medo de machucar a mim e aos outros. E cá estou eu falando de sentimentos outra vez, que babaquice. Poderia falar sobre tantas coisas em meus textinhos vagabundos, mas sempre que vejo me pego no flagra falando sobre sentimentos e sobre minha opinião sobre isso ou aquilo. É um tanto egocêntrico, muito egocêntrico pra falar a verdade, mas não me sinto tão culpado por isso. Não vejo muita graça em escrever sobre outras pessoas, embora acredite que existem motivos em que isso é muito prazeroso e bem vindo. Creio que a maioria dos escritores escreve sobre si mesmo e para si mesmo, e aqueles que não fazem isso tornam-se gigolôs da literatura, vendendo seu talento com as palavras para romantizar histórias de quem pagar mais. Se bem que pensando nisso agora vejo que o jornalismo talvez seja a maior dessas prostituições, e pasmem, eu fazendo essas críticas e estudando jornalismo. Acho que o melhor mesmo seria não julgar ninguém como eu costumo fazer, e o que me faz melhor. Não creio que toda forma de julgamento alheia seja necessariamente maldosa. Acho muitas pessoas realmente chatas, a grande maioria na verdade, mas não me importo em destratá-las ou qualquer coisa assim. Só tento com o máximo de dedicação ficar o mais afastado possível delas para que elas não me chateiem ainda mais. Infelizmente isso é impossível. Em qualquer lugar que vou tem sempre alguém que me chateia bastante. Tento pensar que isso é só a vida como ela é. Em qualquer lugar do mundo e em qualquer tempo da história.
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