sexta-feira, janeiro 25, 2019

Como vão as coisas neste país adjetivo, preferível e menos desastroso o sujeito ser apenas jornalista. Com o correr dos anos, perderá duas coisas e só duas. Embora, é verdade, propriedades que um homem só perde uma vez. O tempo e a vergonha.

Mas o sujeito vai aprendendo a se tapear. Engambela-se, se ilude e joga para dentro de si pensamentos outros. Vai empurrando a vidinha morna com a barriga.

Pior é, no país, o sujeito que, escritor, se mete a também jornalista. Aí, perderá potencial maior - o tempo, a vergonha , o talento e o estilo. Além, claro, de correr outros riscos sérios da dor inútil. Bate-lhe o envelhecimento precoce, a velhice íntima, baixa-lhe impotência, medo, mais as deformações e vícios pequenos. da classe média. Porque esse tipo de infeliz será sempre um animal bufo da classe média.Vai bufanear o tempo todo para ela - e jamais orbitar fora do alcance dela - e se iludir, ardiloso e frenético, pelos bares a dizer, só depois de bebido, que não pertence a ela.

Mas da classe média você não vai escapar, seu. A armadilha é inteiriça, arapuca blindada, depois que você caiu. Tem anos e anos de aperfeiçoamento, sofisticação, tecnologia, ah o cartão de crédito, o cheque especial, o financiamento do telefone, da casa própria e do resto da merdalhada que for moda e, meu, sem ela você não vive. Não respira, é ninguém. Ou melhor, é nada: você já virou coisa no sistema. E não pessoa. Dane-se! Futrique-se, meu bom, meu paspalho, pague prestação pelo resto da vida.

João Antônio; "Abraçado ao meu rancor"

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