“E nossos
sonhos foram enterrados no topo de uma chaminé”, o velho louco costumava me
falar no banco da praça aonde jogávamos xadrez. Samuel, era seu nome. Eu não
sabia jogar xadrez, mas Samuel pacientemente me ensinava a cada movimento
errado com a torre, o cavalo ou o bispo. Samuel faleceu uns poucos anos depois,
vítima de insuficiência renal, ou alguma coisa do tipo, dessas coisas que
acometem os velhos quando o seu tempo de sofrimento nesse plano chega ao fim.
Me mudei de casa dia desses. Deixei o velho quarto e as velhas memórias e
voltei para a casa dos meus pais. Nela há uma chaminé, que quase nunca é ligada
porque não faz muito frio no Brasil. Lembrei de Samuel, do xadrez e de seu
velho ditado, que ele murmurava com os olhos virados como se estivesse
revivendo outra vida, em outra época e com outra companhia. E nossos sonhos
forram enterrados no topo de uma chaminé.
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