Poucas coisas são tão tristes e simbólicas quanto se sentar
na beira do cais e assistir os navios partindo. Você se senta lá e pensa
naquele poema do Ginsberg, “O Sutra do Girassol”, enquanto eles descarregam
suas encomendas e partem pro outro lado do oceano. Você continua rabiscando em
seu caderno e as coisas parecem não fazer muito sentido, como nunca fizeram. A
literatura é sua rendição, mas não é fácil de alcança-la. Você não é Rimbaud, e
mesmo se fosse, ninguém é sério aos dezessete ou vinte e cinco anos. Os navios
se movem com delicadeza e te lembrar de tempos remotos e confortáveis. O
silêncio ensurdecedor da solidão. A ilusão pesarosa do romance. Escrever não é
uma escolha, é uma válvula de escape. Ninguém lerá devaneios tolos, frases mal construídas
em prosas pouco resolvidas, mas alivia. É duro ver os navios partindo e pensar
nos caminhos nunca cruzados. É duro pensar nos poucos que se cruzaram e se
perderam. Escrever é a última coisa a se fazer, e ainda assim a primeira. Os
navios continuam atracando e partindo. O mundo continua redondo e igualmente
solitário e complexo. A vida é um grande poema a espera do ponto final.
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