Domingo de tédio. Um puta pleonasmo. Levanto ás quatro da tarde com uma clássica ressaca cervejista da noitada esticada até ás nove e meia da matina. Augusta de todos os santos e os santos de toda a augusta já passados ponto, subindo em direção aos jardins com o sol a pino na cabeça e famílias fazendo compras nas primeiras horas do primeiro dia da semana.
Passo o dia todo bundando em casa, matando a ressaca com água bebida direto da garrafa e vendo o tempo passar. Aí, resolvo ir ao cinema. Tomo um banho e desço a augusta novamente. Cinema grande, patrocinado por banco, ingresso caro. Nessas horas ainda é bom ser estudante, mas só nessas horas. Na fila, encontro uma gracinha que estudou comigo há alguns anos. De pernocas de fora, a bela acompanha uma amiga e usa uma sainha matadora pra um pobre lascivo solitário na secura como eu. Batemos um papo rápido, e ela sugere “vamos combinar um chopinho¿”, “opa, vamos sim, estou sempre pronto”. Mas que rapaz oferecido. Entrego minha pré-disposição para o consumo de um chopinho e minha carência afetivo-sexual numa só tacada. A guél não se importa, ou parece não se importar, e nos despedimos com beijinho e, se eu não estou enganado, um certo ar de que algo ainda vai acontecer entre nós nesse tal chopinho. E se não acontecer, ainda vale a pena ver aquelas pernocas e falar sobre qualquer coisa.
Entro na sala e escolho um dos lugares disponíveis. Casais lotam o recinto e papeiam e comem pipoca e abrem latas de refrigerante a todo o tempo. O filme começa. Ao meu lado esquerdo, um casal com cara de sonso. O cara, careca, meio brucutu, meio tontão, tá na cara que só quer fazer uma moral com a donzela. A moça, não a vejo, está do lado dele, duas poltronas de mim. Falam ao longo de todo o filme. Comentam cenas e questionam fatos. Ao lado direito, duas bichas velhas fazem o mesmo, mas com um tom mais cult e kitsch porém igualmente bobo. Comentários óbvios são soprados cena por cena. “Oh, que linda”. “Não, ele vai contar pra ela!”. Se cinéfilos são chato, coisas como essa são razões mais que justificáveis. Desencano e entro no cano da película. Filme bom, dos bens feitos, reflexivos. Acaba, e a sala toda debanda com cara de quem comeu e não gostou. Ainda não sei o que achei direito, mas passo um tempo sentado na poltrona e esperando os weekenders darem no pé.
Lá fora, acendo um cigarro. Tortura de cinema é isso, não poder fumar ao longo do filme. Que coisa linda aquele pessoal da nouvelle vague, fumando o tempo todo, acendendo cigarros a torto e a direito, revolucionando a tal da sétima arte e influenciando deus, o diabo e a terra do sol, pro pessoal proibir o tão charmoso cigarro que eles mesmos nos fizeram acreditar que era bom. E porra, é mesmo uma maravilha. Não quero entrar no mérito da saúde, deixa isso pros especialistas. Da minha especialidade cuido eu, e o pitar de cigarrinhos provavelmente é a maior delas.
Volto pra casa contemplando a solidão da meia-noite do domingo. Avenida Paulista esvaziando aos poucos. Dois mendigos já dormem na calçada. Uma pedinte ainda permanece por ali. O sinal fecha, um cara cruza a avenida de skate, joga uma embalagem do McDonalds no lixo e volta pro outro lado fazendo manobras e empinações. Ainda deitado, o mendigo bate palmas em admiração.
segunda-feira, setembro 19, 2011
sexta-feira, setembro 16, 2011
Os mesmos personagens continuam aqui. O garoto bêbado inveterado e desbocado. O jovem poeta sonhador à procura de um amor. O jornalista musical ávido por rock and roll. O boêmio tentando compor sambas sobre a dor e a infelicidade. O pseudo-intelectualóide metido a palpitar sobre as mazelas universais. O cinéfilo frequentador de sessões vazias contemplando a solidão. O pobre diabo que crê ser injustiçado por um mundo ruim. O cretino que quer destruir o mundo. O garoto que queria compor uma balada parecida com os Beatles. O jovem punk querendo anarquizar o sistema e desmoralizar a podridão da sociedade. O maníaco-depressivo flertando com o suicídio. O anjo abençoado que crê em auréolas e milagres de vagabundagens urbanas.
Os personagens continuam aqui, me assombrando e se alternando em uma velocidade impressionante. Os personagens nunca vão embora, e se mantem num constante fluxo. As personalidades sendo trocadas como roupas velhas, e os sonhos intactos, nunca alcançados, pouco procurados, muito batalhados. A esperança latente e sofredora, pobre tolice juvenil de um futuro que nunca chega, de um encontro casual que mudará o curso do inevitável destino para sempre. Esse destino traiçoeiro que me leva a cometer as maiores loucuras, ou a me trancar em casa com medo do mundo lá fora, ou a encarar o mundo lá fora com medo da solidão aqui dentro. Os personagens continuam aqui, e algo me diz que sempre continuarão. Os personagens-fantasmas sussurrando conselhos fantasiosos em meu ouvido, me dizendo para seguir em frente, para não seguir em frente, para batalhar, para desistir, para fazer alguma coisa que mantenha o coração batendo e o sangue pulsando nas veias um pouco entupidas de fumaça de cigarro e bebida.
Andando pela rua, sempre em direção a algum lugar. O cigarro pendendo na mão, as tragadas curtas e profundas, a fumaça subindo no ar. Milhões de pessoas se cruzando na cidade, cada qual para seu lado, cada qual com sua vida, cada qual com seus sonhos, eu também, eu no meio, eu perdido, eu tentando me encontrar, tentando encontra algo na multidão, nas pessoas, na solidão, nas bitucas de cigarro pendendo no chão, nas palavras do livro que leio dentro do ônibus, chacoalhando em direção ao trabalho, em direção à faculdade, em direção à lugar nenhum e a todos os lugares do mundo. O balcão do bar, gelado, impessoal, mas de uma maneira estranha confortador, como se eu pertencesse aquele lugar, como se eu sempre tivesse pertencido. As garrafas se amontoando no canto do apartamento, os copos esvaziando, o disco girando e a música inundando a pequena kitnet de alegria, tristeza, vida ou beleza, tudo em uníssono, tudo de uma só vez, apoteose de imaginação maluca inocente e inexperiente. Absorção de qualquer tipo de frase batida que te faça seguir em frente. Absorção de qualquer pequeno significado em um futuro melhor. Os pais lá longe, muitos quilômetros de distância, os verdadeiros amigos também, as garotas que te fizeram sofrer também, e todos juntos nos meus sonhos, na minha cabeça perturbada, que ferve como uma locomotiva e solta a fumaça dos cigarros que se tornam bitucas apagadas no cinzeiro.
E que diabos eu procuro? não faço a mínima ideia. Não tenho mais medo do escuro. Não tenho medo de muitas coisas. A decepção não mais me assusta. A alegria tampouco me anima. O sangue corre com menos velocidade e o coração já não pulsa lá muito bem. A barriga está crescendo, o tempo diminuindo, e os velhos sonhos se amontoam lá no fundo, junto com as pilhas de papéis que abrigam versos e prosas inúteis e pouco inspiradas. Palavras geniais, pensara eu enquanto escrevia, palavras que vão mudar o mundo, ou parte dele, que vão se juntar num grande livro, que farão companhia aos meus grandes heróis na estante das bibliotecas. Mas elas ainda continuam ali, empilhadas, quase nunca lidas, pouco relembradas. Palavras, palavras, perdidas, achadas. Um dia todo esse papel vai pro lixo ou vai ser queimado. Um dia essa minha carcaça vai ser cremada ou enterrada. Um dia esses meus sonhos não vão valer mais nada. Nesse dia, alguém por aí vai pensar alguma coisa parecida numa outra madrugada. Quem sabe a gente não se encontre dia desses? Pode ser aqui, ou pode ser em outro lugar. Não tenho pressa. Não há necessidade. Será só mais outro garoto perdido na imensidão dessa cidade e de sua própria cabeça, mais ou menos como eu agora.
Os personagens continuam aqui, me assombrando e se alternando em uma velocidade impressionante. Os personagens nunca vão embora, e se mantem num constante fluxo. As personalidades sendo trocadas como roupas velhas, e os sonhos intactos, nunca alcançados, pouco procurados, muito batalhados. A esperança latente e sofredora, pobre tolice juvenil de um futuro que nunca chega, de um encontro casual que mudará o curso do inevitável destino para sempre. Esse destino traiçoeiro que me leva a cometer as maiores loucuras, ou a me trancar em casa com medo do mundo lá fora, ou a encarar o mundo lá fora com medo da solidão aqui dentro. Os personagens continuam aqui, e algo me diz que sempre continuarão. Os personagens-fantasmas sussurrando conselhos fantasiosos em meu ouvido, me dizendo para seguir em frente, para não seguir em frente, para batalhar, para desistir, para fazer alguma coisa que mantenha o coração batendo e o sangue pulsando nas veias um pouco entupidas de fumaça de cigarro e bebida.
Andando pela rua, sempre em direção a algum lugar. O cigarro pendendo na mão, as tragadas curtas e profundas, a fumaça subindo no ar. Milhões de pessoas se cruzando na cidade, cada qual para seu lado, cada qual com sua vida, cada qual com seus sonhos, eu também, eu no meio, eu perdido, eu tentando me encontrar, tentando encontra algo na multidão, nas pessoas, na solidão, nas bitucas de cigarro pendendo no chão, nas palavras do livro que leio dentro do ônibus, chacoalhando em direção ao trabalho, em direção à faculdade, em direção à lugar nenhum e a todos os lugares do mundo. O balcão do bar, gelado, impessoal, mas de uma maneira estranha confortador, como se eu pertencesse aquele lugar, como se eu sempre tivesse pertencido. As garrafas se amontoando no canto do apartamento, os copos esvaziando, o disco girando e a música inundando a pequena kitnet de alegria, tristeza, vida ou beleza, tudo em uníssono, tudo de uma só vez, apoteose de imaginação maluca inocente e inexperiente. Absorção de qualquer tipo de frase batida que te faça seguir em frente. Absorção de qualquer pequeno significado em um futuro melhor. Os pais lá longe, muitos quilômetros de distância, os verdadeiros amigos também, as garotas que te fizeram sofrer também, e todos juntos nos meus sonhos, na minha cabeça perturbada, que ferve como uma locomotiva e solta a fumaça dos cigarros que se tornam bitucas apagadas no cinzeiro.
E que diabos eu procuro? não faço a mínima ideia. Não tenho mais medo do escuro. Não tenho medo de muitas coisas. A decepção não mais me assusta. A alegria tampouco me anima. O sangue corre com menos velocidade e o coração já não pulsa lá muito bem. A barriga está crescendo, o tempo diminuindo, e os velhos sonhos se amontoam lá no fundo, junto com as pilhas de papéis que abrigam versos e prosas inúteis e pouco inspiradas. Palavras geniais, pensara eu enquanto escrevia, palavras que vão mudar o mundo, ou parte dele, que vão se juntar num grande livro, que farão companhia aos meus grandes heróis na estante das bibliotecas. Mas elas ainda continuam ali, empilhadas, quase nunca lidas, pouco relembradas. Palavras, palavras, perdidas, achadas. Um dia todo esse papel vai pro lixo ou vai ser queimado. Um dia essa minha carcaça vai ser cremada ou enterrada. Um dia esses meus sonhos não vão valer mais nada. Nesse dia, alguém por aí vai pensar alguma coisa parecida numa outra madrugada. Quem sabe a gente não se encontre dia desses? Pode ser aqui, ou pode ser em outro lugar. Não tenho pressa. Não há necessidade. Será só mais outro garoto perdido na imensidão dessa cidade e de sua própria cabeça, mais ou menos como eu agora.
quinta-feira, setembro 15, 2011
elas acharam seus escolhidos
elas estão bem
e dormem acompanhadas
e conversam sobre
músicas em comum.
agora, sou passado
continuo trabalhando muito
e bebo vinho sozinho
escutando blues
em noites estranhas.
tenho estado muito cansado
e já faz algum tempo
que não me importo mais
com nada disso.
elas acharam seus escolhidos
mas, de alguma forma
acredito
que estou melhor
ouvindo blues e
bebendo vinho
em minha kitnet
sozinho.
elas estão bem
e dormem acompanhadas
e conversam sobre
músicas em comum.
agora, sou passado
continuo trabalhando muito
e bebo vinho sozinho
escutando blues
em noites estranhas.
tenho estado muito cansado
e já faz algum tempo
que não me importo mais
com nada disso.
elas acharam seus escolhidos
mas, de alguma forma
acredito
que estou melhor
ouvindo blues e
bebendo vinho
em minha kitnet
sozinho.
terça-feira, setembro 13, 2011
Tudo o que eu tenho feito é esperar a vida passar, quieto no meu canto. Ás vezes as chances vêm e vão embora antes que eu possa percebe-lás. Ás vezes elas nem mesmo aparecem. Dias, meses e até anos sem aparecer. São momentos ruins, constrangedores e desesperadores. Mas as chances voltam a aparecer, em menor e maior escala. Tento agarrar uma delas e na crista da onda sentir o turbilhão e deixar ele me levar pra qualquer lugar. Já bati nas pedras muitas vezes, a maioria delas. A outra parte perdeu a força antes que eu pudesse alcançar o objetivo final. Mas ainda entendo que basta esperâ-lás sem enloquecer. Fazer analogias baratas e beber por dias a fio é um bom remédio para essas épocas desafortunadas. Não esquentar a cabeça também é importante. Algo ruim acontecer não é o fim do mundo, nunca é.
domingo, setembro 11, 2011
quantas vezes não afirmastes
em teus desesperos anacrônicos
que desejava a morte mais que a amada
que tanto perseguistes
por quem tanto chorastes
se me dizes as causas
de seu mórbido desespero
posso com certa audácia
menear com destempero
te levar ao fim do mundo
onde não mais chorarás
te levar ao fim do mundo
onde nada importarás.
em teus desesperos anacrônicos
que desejava a morte mais que a amada
que tanto perseguistes
por quem tanto chorastes
se me dizes as causas
de seu mórbido desespero
posso com certa audácia
menear com destempero
te levar ao fim do mundo
onde não mais chorarás
te levar ao fim do mundo
onde nada importarás.
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