terça-feira, março 09, 2010

Sobre Kerouac, Brian Wilson e a sensibilidade.

São Paulo meio quente numa noite tediosa e toda esquisita (mas “esquisita” de um jeito ok, e não ruim como em outras noites esquisitas) e eu lendo Visões de Cody e pensando em Kerouac e escrevendo imitando Kerouac e pensando que eu to sacando alguma coisa quando na verdade eu não to sacando nada, mas eu gosto de saber o quanto me faz bem ler o cara (e até mesmo imitá-lo) e eu paro e penso algo como “mas peraí, cadê o estilo que eu tanto procurei (e que não encontrei) minha vida inteira?” e o estilo não existe porque o que eu faço é imitar KEROUAC mas me faz um bem danado danado de verdade escrever notas que eu sei que ninguém vai ler e tudo isso rapidão digitando sem parar e imaginando como o cara fazia aquilo tudo com todas as reflexões (e todas as “visões de um grande rememorador” como batizou Ginsberg) cheio de benzedrina e outras boletas na cabeça e um montão de histórias pra tocar e eu não tenho nenhuma boleta, nenhuma bebida e nenhuma história interessante pra contar, mas nada disso importa muito porque cês sabem que o mais importante ás vezes é o menos importante, e nem eu mesmo sei se isso que eu disse faz algum sentido, mas soa bonito refletir e escrever numa noite dessas.

Fico ouvindo os Beach Boys e pensando em Brian Wilson. Assisti Beautiful Dreamer um dia desses. É o documentário que fala sobre a vida do Brian Wilson e o disco Smile e eu gostei muito desse documentário. Depois descobri que ele foi dirigido pelo biógrafo do Wilson, e talvez seja isso que faça a coisa ficar tão sincera como foi. É um belo documentário, e é muito triste quando falam da época em que o Brian abandonou o projeto SmiLE e acabou tendo todos aqueles problemas psicológicos e a ouvir vozes que diziam “we’re gonna kill you” e outras coisas do tipo, e é um bocado triste ver um dos maiores gênios da música e um cara de uma sensibilidade e um talento tremendos entrando em paranóia, porque caras assim não merecem esse tipo de coisa, não mesmo. Caras com sensibilidade de verdade, não essa sensibilidade barata que tentam empurrar pra gente toda hora com filmes ruins, livros de auto-ajuda e novelas de televisão, mas sensibilidade de verdade, de caras que viveram o sonho e o pesadelo da vida de verdade e que conseguiram escrever, compor ou filmar coisas maravilhosas e verdadeiras, e tudo o que eu sempre busquei foi uma maneira de fazer isso, de fazer isso de verdade, eu não sei como, nem no que, e talvez até tenha sido por isso que eu tenha abandonado o jornalismo e praticamente tudo que eu tentei fazer na minha vida, porque TUDO o que eu sempre quis foi achar um pouco de verdade, de sensibilidade, de VIDA nessa coisa toda.

E eu posso e provavelmente sou um tolo, mas eu realmente acredito na bondade das pessoas. Quer dizer, eu sei que na maioria do tempo todo mundo é tão filha da puta quanto pode ser, e todo mundo põe todo mundo pra baixo, e tenta passar a perna em todo mundo e não se importa se você tá sozinho numa noite de sábado vagando com uma garrafa na mão porque pra eles você é só um “bêbado arruaceiro” e um vagabundo que não quer nada com nada, mas eu ainda acho que por trás de todo esse cenário de terror e essa cortina de indiferença existam muitas pessoas boas e geniais no mundo, pessoas que andam pelas ruas montando textos e poemas em suas cabeças, que cantam Beatles escorados nos bancos dos metrôs e que lêem Hemingway ou qualquer outro grande escritor com a atenção e a curiosidade de alguém que quer saber qual é o mistério e a paixão por trás daquelas páginas que não por acaso são chamadas de “romances”. E é por isso que eu sei que, apesar de todo o caos, de toda a loucura, de toda a falta de sensibilidade e sinceridade no mundo, ainda haverão esses malucos tocando guitarras em garagens e escrevendo em quartos apertados e enchendo suas estantes com grandes livros e discos porque eles sabem que tudo isso é mais importante que toda e qualquer coisa que eles tentam nos empurrar a qualquer custo goela abaixo enquanto nós só queremos ser verdadeiros e sensíveis o suficiente pra entender que a poesia é algo muito além de versos copiados em cartões vagabundos de dia dos namorados.

Nenhum comentário: