Pobres, pobres! Acreditando que tinha algo a lhes
oferecer. Eu estava muito perdido, como sempre estive, como nunca estive. E eles
olhavam pra mim como se eu tivesse uma espécie de áurea ou como se pudesse lhes
dizer algumas palavras confortadoras. Eu não tinha nada confortador para dizer,
toda a minha vida tinha sido um grande martírio e eu já não queria mais estar
ali. Eu não entendia porque me olhavam daquele jeito e acreditavam que eu tinha
algo a oferecer. Talvez fosse uma recompensa por todo o meu sofrimento, mas eu
tinha sofrido demais pra aceitar essa recompensa de bom grado. Eu já estava
acostumado ao fracasso, à decepção, ao horror. Eu sabia muito bem o que queria
e o que não queria, mas sabia que nunca teria nenhuma das duas coisas. Eu
estava perdido como um filhote que foge da ninhada, mas não havia mais instinto
de sobrevivência, não havia abrigos para se esconder. Era o fim, meu amigo, o
bom e velho fim, e era bom aceitar antes que tudo aquilo se tornasse ainda
pior. Eu precisava tomar uma atitude, e logo. Mas, como sempre, eu era muito
covarde pra isso.
Memórias de um Covarde em Extinção; Rick Nicoletti