sexta-feira, outubro 11, 2024

"Recentemente eu estava assistindo ao noticiário, como faço todos os dias - assisto ao noticiário das quatro horas, seguido por Wheel of Fortune e depois Jeopardy! -, e uma das reportagens mostrava como a ansiedade e a criatividade estão ligadas. Um grande estudo foi realizado em uma universidade, e os médicos responsáveis pela pesquisa disseram que ansiedade e criatividade são mais ou menos a mesma coisa: ambas envolvem lidar menos com o que está diante de você e mais com aquilo que está na sua cabeça. Escutar o que se passa em sua cabeça, especialmente quando você é uma pessoa que sofre de ansiedade, traz-lhe emoções negativas, mas também é uma forma de imaginação. Se você pode se preocupar com problemas quando não há problemas por perto, então também é capaz de pensar em histórias ou músicas quando não há histórias ou músicas por perto. Você pode fazer coisas que não existem passarem a existir."

Brian Wilson - Eu Sou Brian Wilson

domingo, setembro 15, 2024

 

Viciado em experiências
Cumpriu em movimento
Sua penitência.

 

A vida ensina
A derrubar
Você aprende
A não cair.

--

Na próxima vida quero ser
Poeta-fotógrafo-pintor
Pra registrar o que vejo
Com o devido primor.

--

Tóquio, setembro de 2024

 

No centro de Tóquio
Cercado pela vegetação
Paz em meu coração.

--

Na casa de chá
No meio do parque
Tento me encontrar.

--

Chuva caindo nas telhas e árvores
Tempo correndo cedo e tarde
Vida acontece no mundo que arde.

--

Natureza viva ou morta
Eternidade sem solução
Só o agora é o que importa.

--

Brilhante poça de água
Espelhando o vibrante
Reflexo de mágoa.

--

Nipônica sabedoria
Que se aprende
Mas não se ensina.

--

Nós ocidentais
Invadindo o oriente
Com ideias banais.

--

Respirando fundo para
Tornar mais leve
O peso do mundo.

--

Missão abismal:
Encontrar equilíbrio
No meio do caos.

--

Carpas nadam no lago límpido
Borbulhando nas águas
Fragmentos do que sinto.

--

As coisas são o que são
Mas como cerejeiras
Mudam a cada estação.

--

Morte passageira
Vida eterna
Luz no fim da caverna.

--

Registrando palavras
Que serão esquecidas
Por gerações não nascidas.


Jardim Shinjuku Gyoen, Tóquio, setembro de 2024


Eis que eu, ateu
No templo xintoísta
Rezo pelo além do eu.


--

No centro de Tóquio
Diante do templo
Finalmente entendo.

--

Na paz do xintoísmo
Agradeço aos Deuses
Por esse mundo lindo.

--

No santuário, tranquilo
Peço aos espíritos
Um breve cochilo.

--

Sou fruto do meu tempo
Mas também sou fruto
Do que veio com o vento.


Tóquio, santuário Nezu, agosto de 2024. 

Tudo que vive morre
E tudo que morre renasce
E tudo que renasce vive
E tudo que vive não morre.

Templo de Confúcio, Pequim; agosto de 2024.

segunda-feira, fevereiro 19, 2024

Nós Não Falamos de Amor / We Do Not Speak of Love

 Para Alix Geluardi


nós não falamos de amor

mas todos são empurrados e puxados

por ele


tomando todas as formas e formatos

torcidos socados queimados

por ele

  

como a argila do escultor nossos rostos

socados e comprimidos

esticados ou rasgados

por ele

  

olhos doloridos ou profundos ou perdidos

linhas cortadas nas bochechas e testas

a partir dele


nós não falamos de amor

nossas faces gritam

por ele

  

assombrando bares e

correndo selvagemente nas ruas

por ele

  

nós não falamos de amor

mas picamos veias quentes engolimos pílulas

estouramos cérebros com álcool

por ele


deuses e demônios lutam pelo coração

dele


Não posso sobreviver à falta

dele


--


 we do not speak of love

 but all are pushed & pulled

 by it

  

 taking all forms & shapes

 twisted pounded burnt

 by it

  

 like the sculptor’s clay our faces

 punched & pinched

 made long or ripped apart 

 by it

  

 eyes pained or deep or lost

 lines cut in cheeks & forehead

 from it

  

 we do not speak of love

 our faces scream

 of it

  

 haunting bars &

 running wild in the streets

 for it

  

 we do not speak of love

 but spike warm veins pop pills

 burst brain with alcohol

 for it

  

 gods & demons wrestle for the heart

 of it

  

 I can’t survive the lack

 of it

  

                                           San Francisco, ca. 1972


Harold Norse

domingo, fevereiro 04, 2024

Para o Jovem Que Quer Morrer / To the Young Who Want to Die

Sente-se. Inspire. Expire.

A arma vai esperar. O lago vai esperar.

O grande asco no pequeno e sedutor frasco

vai esperar vai esperar:

vai esperar uma semana: vai esperar até abril.

Você não precisa morrer neste dia exato.

A morte vai permanecer, vai deleitar seu adiamento.

Eu te garanto que a morte vai esperar. A morte tem

muito tempo. A morte pode 

te atender amanhã. Ou semana que vem. A morte está

logo na rua de baixo; a vizinha mais prestativa;

pode te encontrar a qualquer momento.


Você não precisa morrer hoje.

Fique aqui--pelo beicinho ou dor ou irritação

Fique aqui. Veja quais serão as notícias de amanhã.


Túmulos não cultivam nenhum verde que você possa usar.

Lembre-se, o verde é sua cor. Você é Primavera.


--


Sit down. Inhale. Exhale.

The gun will wait. The lake will wait.

The tall gall in the small seductive vial

will wait will wait:

will wait a week: will wait through April.

You do not have to die this certain day.

Death will abide, will pamper your postponement.

I assure you death will wait. Death has

a lot of time. Death can

attend to you tomorrow. Or next week. Death is

just down the street; is most obliging neighbor;

can meet you any moment.


You need not die today.

Stay here--through pout or pain or peskyness.

Stay here. See what the news is going to be tomorrow.


Graves grow no green that you can use.

Remember, green's your color. You are Spring.


Gwendolyn Brooks

terça-feira, janeiro 02, 2024

Ano Novo

se pudesse
teria feito 
tudo diferente

mas, se acaso
tivesse feito 
tudo diferente

de alguma forma 
não seria
tudo igual?

domingo, dezembro 17, 2023

Por essa carcaça

por essa carcaça
que arrasto por aí
já se passaram traumas
paixões enlouquecidas
decepções revividas.

por essa carcaça
que insisto em carregar
já vivi muitas histórias
lutas sem glórias
dias e noites de pesar.

por essa carcaça
que chamam de corpo
já desejei estar morto
ansiei em ficar vivo
temi ser esquecido.

por essa carcaça
que levo a perigo
tive sonhos e pesadelos
sensações e medos
que ainda trago comigo.

por essa carcaça
que me tira a calma
quase perdi a sanidade
quase matei a alma.

por essa carcaça
essa velha carcaça
o peso do mundo todo
ainda me ameaça.

por essa carcaça
essa sofrível carcaça
ainda sigo em frente
apesar de toda desgraça.